Vereadores da Serra reagem a projeto que prevê tratamento de esgoto de Vitória no município: “A Serra não pode virar o pinicão da Capital”

Vereadores da Serra reagem a projeto que prevê tratamento de esgoto de Vitória no município: “A Serra não pode virar o pinicão da Capital”

A polêmica em torno do projeto que prevê o transporte e tratamento do esgoto de Vitória na Serra ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (4), com a apresentação de um projeto de lei pelos vereadores Renato Ribeiro (PDT) e Rafael Estrela do Mar (PSDB). A proposta visa proibir que políticas de saneamento de outros municípios sejam implantadas na Serra, sem consulta ou concordância prévia do município.

A iniciativa surge em meio à mobilização de moradores e lideranças comunitárias contra o projeto da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), que, em parceria com o Governo do Estado e o consórcio GS Inima, está construindo a Estação de Produção de Água de Reúso (EPAR) em São Geraldo. A unidade vai transformar 300 litros por segundo de esgoto em água de reúso para uso industrial — 200 litros por segundo serão destinados à ArcelorMittal Tubarão e o restante poderá ser vendido à Vale.

“Vitória se livra de um problema sério, e a Serra é escolhida para receber toda essa carga”

Durante a apresentação do projeto, o vereador Rafael Estrela do Mar fez críticas duras ao modelo adotado:

“Enquanto Vitória se livra de um problema sério, a Serra está sendo escolhida para receber toda essa carga. Não somos contra o desenvolvimento nem contra a água de reúso, mas não podemos aceitar que o município seja tratado como o depósito de esgoto da Capital, sem qualquer respeito à nossa população.”

O parlamentar também questionou a lógica da operação:

“Por que não faz o tratamento em Vitória e manda a água limpa para a Serra? Já que vai canalizar, o tubo poderia ser até menor. Vitória quer eliminar o pinicão e passar esse esgoto todo por um tubo para cá.”

“A Serra não foi ouvida, sequer conhece os detalhes do projeto”

O vereador Renato Ribeiro ressaltou a ausência de diálogo com a cidade da Serra:

“Assinaram uma ordem de serviço com a empresa vencedora da licitação, uma multinacional espanhola, por R$ 2,4 bilhões, e sequer apresentaram o projeto à Prefeitura ou à Câmara. Não sabemos nem por onde vai passar a tubulação que vai bombear esse esgoto.”

Renato também questionou o impacto urbano nas regiões afetadas:

“Vão quebrar a Norte-Sul inteira até chegar em São Geraldo? Vão passar por dentro de bairros como Bairro de Fátima ou Carapina 1? É o maior questionamento da cidade hoje.”

Segundo ele, além dos impactos ambientais e estruturais, há interesses imobiliários por trás da desativação da ETE de Vitória:

“Aquela área de Jardim Camburi tem um metro quadrado altíssimo. É uma área nobre que sofre há anos com o pinicão. A reivindicação da desativação é antiga, especialmente da população de Jardim Camburi.”

“Não somos contra a água de reúso, mas isso é greenwashing”

Renato também classificou a estratégia como “greenwashing”:

“As grandes empresas usam esse discurso de sustentabilidade, mas escondem interesses muito maiores. Vitória elimina o ônus e passa o transtorno para a Serra.”

Comunidade cobra diálogo e transparência

A falta de consulta pública também é criticada por lideranças locais. Carlos Romeu de Melo, da Associação de Moradores de Manoel Plaza, cobrou a realização de audiências públicas:

“É preciso escutar a população diretamente afetada, avaliar os impactos e incorporar as sugestões no projeto.”

O traçado previsto para a instalação das tubulações afetaria diversos bairros da Serra, como Rosário de Fátima, Eurico Salles, Carapina I, Bairro de Fátima e Manoel Plaza, onde obras podem levar ao bloqueio de vias importantes.